segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Comentários sobre alguns parágrafos de "A educação integral", de Mikhail Bakunin


“Todos os indivíduos são igualmente capazes de alcançar o mesmo grau de educação? Imaginemos uma sociedade organizada segundo a maneira mais igualitária possível e em que todas as crianças tenham desde o nascimento o mesmo ponto de partida, tanto no plano econômico e social como no político, ou seja, exatamente o mesmo cuidado, a mesma educação, o mesmo ensino; não haverá entre estes milhares de pequenos indivíduos diferenças infinitas de energia, de tendências naturais, de aptidões?
Este é o grande argumento de nossos adversários, burgueses puros e socialistas burgueses. Creem-no irresistível. Tentemos, pois, provar o contrário. Em primeiro lugar, com que direito se fundamentam no princípio das capacidades individuais? Há lugar para o desenvolvimento destas capacidades na sociedade tal como é? Pode haver um lugar para o desenvolvimento numa sociedade que continuará tendo como base econômica o direito de herança? Evidentemente que não, pois desde o momento em que houver herança, a carreira das crianças não será nunca o resultado de suas capacidades e de sua energia individual; será antes de mais nada o do estado de fortuna, da riqueza e da miséria de suas famílias. Os herdeiros ricos, porém néscios, receberão um ensino superior, as crianças mais inteligentes do proletariado continuarão recebendo como herança a ignorância, exatamente como se pratica agora. Não é, pois, uma hipocrisia, um engano infame, falar de direitos individuais fundados em capacidades individuais não só na atual sociedade, mas também inclusive com vistas a uma sociedade reformada, que não obstante continuaria tendo como base a propriedade individual e o direito de herança?”.
  •  Aqui, Bakunin diz que as diferenças entre as pessoas é fortemente estabelecida de acordo com a classe social em que a criança nasce. Quer dizer, uma criança nascida em família abastada terá sempre muito mais possibilidades de carreira que aquela nascida no berço de ouro. As diferenças entre as pessoas existem principalmente porque existem diferentes classes sociais.
  • Bakunin afirma que a expressão das diferenças intelectuais entre as pessoas deve-se principalmente às diferenças de instrução que cada uma recebe. A uns, uma educação que promova sua intelectualidade, e a outras, somente o necessário para que continuem em trabalhos braçais aos quais se nega a burguesia a realizá-los. Não são verdadeiros escravos os de baixa instrução? Como pode haver escravos que defendam esse regime escravocrata?
  • Como você pode achar justo (diga-me: você acha realmente justo?) que, caso uma criança nascida rica queira ser o que se chama de “vagabundo” - ou seja, não dedicar-se a trabalhar em nada, dedicar-se somente a gastar o dinheiro de sua família - possa fazer isso, enquanto milhões de pessoas sofrem com a fome?
“Fala-se tanto de liberdade individual hoje, e no entanto o que domina não é em absoluto o indivíduo humano, o indivíduo considerado em geral, é o indivíduo privilegiado por sua posição social, é por conseguinte a posição, a classe. Que se atreva um indivíduo inteligente da burguesia a levantar-se contra os privilégios econômicos desta classe respeitável, e veremos o quanto estes bons burgueses, que neste momento só têm na boca a liberdade individual, respeitarão a sua. E ainda se fala em capacidades individuais! Não vemos cada dia as maiores capacidades  operárias e burguesas forçadas a dar passagem e inclusive abaixar a cabeça diante da estupidez dos herdeiros do bezerro de ouro? A liberdade individual, não privilegiada mas sim humana, as capacidades reais dos indivíduos só poderão realizar seu pleno desenvolvimento em plena igualdade. Quando houver igualdade de ponto de partida para todos os homens da terra, somente então se poderá dizer, com muito mais razão que hoje, que todo indivíduo é filho de suas obras. Daí concluirmos que, para que as capacidades individuais prosperem e não haja impedimento quanto a dar frutos, é necessário antes de tudo que todos os  privilégios individuais, tanto econômicos como políticos, tenham desaparecido, isto é, que todas as classes sociais sejam abolidas. É necessário o desaparecimento da propriedade individual e do direito de herança, é necessário o triunfo econômico, político e social da igualdade.”
  • Bakunin demonstra que não haverá verdadeira meritocracia em qualquer sociedade enquanto não houver igualdade para todos, igualdade que virá com o fim das classes sociais.
  • Por que dividir as pessoas em classes se elas são todas iguais? O que as divide em classes sociais é o direito de herança e da propriedade individual, elementos que devem ser então abolidos da sociedade para que se possa dizer que há, enfim, meritocracia.
“Mas uma vez vitoriosa a igualdade e bem estabelecida, não haverá mais nenhuma diferença entre as capacidades e os graus de energia das pessoas? Sim; haverá, talvez não tanto como hoje, mas sem dúvida sempre existirá. É uma verdade que se tornou proverbial, e que provavelmente não deixará nunca de ser uma verdade: na mesma árvore não há nunca duas folhas idênticas. Com muito mais razão, será sempre verdade em relação aos homens, uma vez que estes são seres muito mais complexos do que as folhas. Mas esta diversidade, longe de ser um mal, é ao contrário uma riqueza do homem, como bem observou o filósofo alemão Feuerbach. Graças a ela a humanidade forma um conjunto em que uns completam os outros e se necessitam mutuamente e de tal modo que esta diversidade infinita dos indivíduos humanos é a causa, a base principal da solidariedade, um argumento bastante poderoso em favor da igualdade.”
  • Ou seja, justamente as diferenças entre as pessoas é o argumento mais forte a favor da igualdade entre elas (quer dizer, o fim da divisão das pessoas em classes sociais), pois todas precisam umas das outras. Daí advém a necessidade da solidariedade para que haja um mundo justo e igualitário. Não há justiça, solidariedade, igualdade, quando uns são superiores a outros apenas por causa da classe social em que nasceram.

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